sábado, 26 de janeiro de 2008

Circuito verão de xadrez no Uruguai





1ª etapa

O evento foi uma iniciativa do Clube Sarandi Universitário e foi dividido em quatro etapas entre os meses de dezembro/2007 e janeiro/2008 na sede campestre do clube de Rivera no Uruguai. Todas elas foram disputadas com início nas tardes de sextas-feiras com a primeira rodada no tabuleiro gigante e, quando a luz ambiente não mais permitia que jogassem normalmente – os enxadristas passavam para área coberta e jogavam até as primeiras horas do dia seguinte.
Aí até que tinha uma vantagem. O gerente do clube Flaco Eduardo Melo ordenou ao chefe da cantina, Iraldo Rodriguez que não poupasse esforços em bem atender os convidados. Para isso servia pizzas, batatas-fritas, tortillas, pastéis e muito refrigerante. Realmente uma recepção digna de primeiro mundo aos artistas dos tabuleiros. Quem não gostaria deste “mu mu” todo? Houveram aqueles mais acomodados que recusaram. Mas não tem problema – pois aqueles mais fiéis cumpriram seus papéis e deram suas parcelas de participações e de sobremaneira serviram de palco para o desfile de um fenômeno que começava a surgir.
Tiago Braz não estava lá com tanta vontade de participar, mas devido às grandes pressões que sofrera dos demais resolveu participar. Não é que teve até sorte, e muita, na conquista do primeiro título que literalmente lhe caiu no colo. Na última rodada ele até poderia ser campeão, mas dependia de resultados paralelos e o mais improvável seria que o jogador de muitas pátrias Dirley Belo perdesse sua partida. Ele enfrentaria e de brancas o arquiteto Diego Pelaez que é infinitamente menos jogador que ele. Seria o mesmo que acreditar que um fusca pudesse vencer uma corrida de Fórmula-1.
A última rodada, a quinta, iniciou já com um virtual campeão. Belo jogava, se levantava, dançava e fazia todo tipo de galhofas como se houvera vencido. Não é que lá pelo movimento 26 ele deu a velha e boa “pixotada” e acabou levando um descoberto de peão que na seqüência comeu sua Dama que culminou na ameaça inevitável de xeque-mate em dois lances. Tiago vendo isso ganhou sangue novo. Partiu para cima de Castillo, vencendo, é claro. Castillo é tão boa pessoa que houve até quem suspeitasse que ele deixara Tiago vencer. Pelo sim – pelo não, mas principalmente pelos critérios de desempates Tiago levantou seu primeiro caneco.

2ª Etapa

Exatamente duas semanas se passaram e Flaco Eduardo voltou anunciar que promoveria outro torneio, nas mesmas condições. E curiosamente como num “clube do bolinha” lá estavam exatamente os mesmos da outra vez. Só que mudara desta vez era um dos petiscos. Desta vez tinha churrasco de lingüiça. Uma iguaria típica do Uruguai que costuma colocar o chouriço no pão com muito molho verde chamado de pesto, cujos ingredientes são: salsa, cebolinha verde, pimentão, alho, sal, pimenta e azeite de oliva, tudo muito bem moído e misturado – realmente uma delícia. Só quem já provou poderá confirmar, mas quem estiver lendo esta crônica pode sonhar e ter água na boca, porque é muito gostoso esse molho verde. Ainda mais se abaixo dele estiver uma linguiçinha douradinha no meio de um pão Viena com maionese e cat-chup.
Este torneio não teve um final tradicional – porque houve a necessidade de três enxadristas desempatarem para saber do 1º ao 3º colocado. Tiago, Castillo e Gilberto ficaram exatamente iguais em todos os quesitos. Fato não muito comum no xadrez. Aí a solução foi a disputa de um mini-torneio entre eles de ida e volta. Daí a estrela de Tiago mais uma vez brilhou e ele venceu todas as partidas ficando com o bi-campeonato.

3ª Etapa

Desta vez Tiago teve mais sorte que juízo. Na partida que seria fácil, a primeira, ele – sabe-se lá porque, se enrolou todo e por detalhes não perdeu para Diego Pelaez. No final naquela bateção de peças o tempo do Tiago caiu, mas Diego que estava ligado apenas no tabuleiro não percebeu. Até que um “Peru” que estava olhando gritou... “Caiu o tempo de Tiago!” Aí houve a necessidade da interferência da arbitragem que alertou para o fato de que o pessoal de fora não pode opinar nas partidas alheias. Neste meio tempo a seta do relógio de Diego também caiu sem que este tivesse tido a oportunidade de reivindicar a vitória. Ao serenarem os ânimos – e discorridas as regras oficiais da FIDE, o empate foi decretado e o torneio prosseguiu normalmente. Mas sem o desagradável Peru. Tiago resolveu jogar sério e venceu todas as quatro partidas restantes e sagrando-se campeão isolado com 4,5 pontos.

4ª Etapa

Ele desta teve vontade de chorar – não de alegria como das vezes em que venceu, mas de tristeza – e muita. Agora não foi a sorte que abandonou Tiago e sim faltou jogo mesmo. Não era sua noite. Já na primeira rodada sofrera para vencer o fraco Alcides. Na segunda, o empate com o professor Mário Andrades lhe saiu barato. Merecia ter perdido. Com este joguinho não iria muito longe. Mesmo assim o computador lhe manteve na mesa Um e sabe quem trouxe para enfrentá-lo? O temido Sixto Corbo. Um irreverente e por vezes “chato” jogador uruguaio de xadrez que viera de Montevidéu onde estuda e joga. Por sinal está entre os melhores de seu país e atingiu o rating de Mestre Nacional. Tiago mais uma vez repetiu seu desempenho ridículo e foi sumariamente derrotado. Porém, ainda conseguiu reabilitar-se e ficou com o vice-campeonato.




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