quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Enxadrista surpreende organizadores de futuro memorial








As horas, dias e a semana que passou – foi de muita aflição não só para os familiares de Oscar Rodríguez, mas para seus amigos enxadristas que aguardavam ansiosamente seu pleno restabelecimento para que ele pudesse participar do torneio que o homenagearia numa iniciativa do consórcio institucional formado pelo Bobby Fischer Xadrez Clube (BFXC) e o setor de lazer do Serviço Social da Indústria (Sesi) - ambas entidades de Sant’Ana do Livramento. O torneio que fora batizado de Troféu Oscar Rodríguez, num reconhecimento de sua longa trajetória e dos méritos pelas suas conquistas desde uns 12 anos quando chegou em Rivera vindo de Montevidéu, capital uruguaia e fez suas bases operacionais de longos e exaustivos estudos que lhe renderam muitos títulos, notoriedade e motivo desta homenagem que quase se transformou em memorial póstumo. Para quem não sabe – o evento que seria objeto de veneração na noite do último dia três de março com a disputa de um torneio com seu nome teve de ser suspenso, pois o astro maior foi surpreendido por um frêmito emocional que quase lhe valeu a vida.

Estava tudo pronto – a turma reunida, a premiação cobiçando a todos e a presença de três emissoras de televisão: duas de Rivera e uma local, mas com abrangência regional e nacional. Como o personagem em questão era de reconhecimento internacional, muito natural que houvesse todo esse interesse e mais ainda de alguns fotógrafos. A sala de jogos do BFXC estava realmente repleta de enxadristas, profissionais de imprensa e muitos curiosos. Estes últimos passavam frente ao clube quando foram atraídos pelas luzes dos cinegrafistas e de alguns flashes dos fotógrafos. Tudo indicava que algo de especial estava para acontecer. Quiçá o prefeito municipal ou outra personalidade. Porém passadas algumas horas houve frustração geral, pois nada do homenageado e pior ainda – a notícia que suscitou através de um telefonema dava conta que algo de muito grave ocorrera. Oscar estava internado e sua vida corria risco. Houve princípio de tumulto, muitos queriam detalhes – só que não foi autorizado pelo familiar que telefonara revelar o seu paradeiro. Apesar de tudo, os mais espertos capitaneados pelo astuto arquiteto Diego Rodolfo Pelaez – e todos riverenses, trataram de fazer uma recorrida e logo descobriram que o telefonema vira do Sanatório, mas que na verdade Oscar estava no instituto Comeri. Porém a UTI era de acesso restrito e tiveram de se contentar com as informações do plantonista. O mundo exterior ficou sem notícias por horas e isso foi penoso. A única informação até o momento dava conta de que a pressão dele chegara a 12x4 e com quadro sem melhoras à vista. Também surgiu a história de que este quadro fora agravado por uma injeção que o seu organismo rejeitara ou fora mal aplicada. Circulavam notícias, mas todas ruins. A única solução seria rezar e torcer para que seu organismo assimilasse o novo tratamento.

Sexta-feira, dia nove, era meio da noite – quiçá lá pelas 22 horas quando o telefone volta a tocar no Bobby Fischer justamente quando grande parte dos enxadristas estava reunida lamentando o que sucedera com amigo Oscar e tentando descobrir uma forma de ajuda e apoio à sua família. Desta vez não era alguém estranho com notícias ruins como acontecera há uma semana, para surpresa quem estava ao fone era ninguém menos do que o outrora moribundo Oscar. Segundo ele mesmo informou – sua saúde estava como um aço e pediu para organização que providenciasse a realização do torneio quer iria participar sem problemas. Mais uma vez o agito foi geral. Dezenas de telefonemas foram dados para avisar os demais amigos da boa nova e que a homenagem se processaria no sábado, dia 10 no Bobby na hora combinada. Pena que desta vez não houve tempo hábil para confirmar a presença de todos veículos de comunicação. Porém o mais importante estaria presente – Oscar Rodríguez que por pouco não teve sua homenagem em vida transformada em memorial póstumo.

Sábado – 10 de março, 19h45min horas o homenageado foi o primeiro a chegar no Bobby. Ele estava nitidamente ansioso, emocionado e demonstrando ares de orgulho. Não era para menos – pois soubera que se transformara em personalidade idolatrada e muitos rezaram por ele. Esteve por um fio. Mas graças a Deus deste mal não morrerá mais, pelo menos se esta for a vontade geral dos enxadristas. Mais magro, porém nem por isso mais fraco. Os dias que o mantiveram na clausura da cama lhe tiraram alguma massa corporal, mas isso para um enxadrista não significa muita coisa. Ele aproveitou os momentos de solidão para curtir sua literatura favorita: os livros de xadrez. Jazia muito tempo que não tinha uma oportunidade dessas. Assim aproveitou como nunca. A mente privilegiada de um jogador de xadrez é uma ciência à parte. E a de Oscar agora turbinada com todo tipo de remédios foi um show – pelo menos foi essa a opinião geral dos enxadristas que disputaram este torneio. Olha que na hora em que o jogo inicia tudo se transforma. Os amigos agora são adversários. O tradicional aperto de mãos sela o início de uma outra realidade, uma dimensão neural onde nem os psiquiatras mais renomados conseguem entender – quiçá explicar este fenômeno.

21h47min finalmente o evento iniciou. As duas salas do BFXC estavam literalmente lotadas. O que chamou atenção era o fato da presença de muitas crianças apesar do adiantado da hora. Acontece que muitos pais levaram seus filhos para assistir o grande acontecimento e conhecer o enxadrista que teve no limiar da morte e conseguiu se safar. Ele não imaginava, mas se tornou um ícone para a meninada. Cinco rodadas ao ritmo de 15 minutos por jogador – perfazendo meia hora de partida era o que determinava o regulamento. Já de cara ele enfrentou o messiânico e novo profeta do xadrez José Menezes. Oscar tinha uma estratégia para vencer que foi infalível. Estudou exaustivamente as aberturas hiper-antigas com variantes ortodoxas e deu certo. Como não mais se joga este tipo de linha logo deu um nó na mente de seus adversários que foram caindo um por vez. Na segunda ronda teve Felix Maidana, mas este também teve o destino de seu antecessor, um pouco mais difícil é bem verdade, pois chegaram aos finalmente e Oscar acabou promovendo um de seus peões – forçando Félix a abandonar porque o xeque-mate seria questão de poucos lances. Chegou a vez de seu grande fã e responsável pela agitação, Diego Pelaez. Outro que não lembrava, ou não sabia, da abertura utilizada por Oscar e acabou sendo facilmente derrotado. Assim ele levou até se deparar com Alcides Paz. Neste as coisas não funcionaram como devia. Num momento nefrálgico de vacilação ele ousou tanto que esqueceu a seqüência do lance - deixou sua Dama pendurada e acabou sentindo como é amarga a derrota.

Já era adiantado da hora quando os “combatentes” entraram na última rodada. Com esta derrota Oscar foi deslocado da mesa principal. Nos torneios de xadrez – os jogadores são distribuídos qualitativamente segundo seus desempenhos nas mesas principais – sendo que a número um é a mais cobiçada. O homenageado estava na iminência de levar para sua casa o grande troféu de campeão. Esta derrota não estava em seus planos. Nesta partida decisiva ele deveria vencer. Caso contrário o prêmio máximo com certeza iria para Félix que estava em seus calcanhares. Azar do sargento Carlos Augusto do 7ºRCMEC que teve de enfrentar um leão ferido. Um leão desnutrido e magro é bem verdade, mas um leão é sempre um leão. Carlos até foi valente e lutou, mas prevaleceu não só a experiência de Oscar, mas o volume de jogo. Com este título ele sai na frente na corrida dos campeões liderando o ranking de 2007. Além dele – a organização premiou com medalhas personalizadas até o sexto lugar foi a seguinte ordem: vice-campeão Félix Maidana seguido por Diego Pelaez, Messiânico José Menezes, Alcides Paz e o sargento Carlos Augusto em sexto. O próximo encontro será em abril com o torneio de Páscoa. Este deverá ter a presença de jogadores de Bagé que se comprometeram a vir prestigiar o pronto restabelecimento de Oscar.
Entretanto, o grande destaque da noite não ficou por só por conta do show de Oscar. A partida que desviou todas as atenções aconteceu na última rodada na mesa em que se enfrentavam o uruguaio e secretário do clube Sarandi Universitário de Rivera Júlio Lito e o recém chegado aos quadros de enxadrista iniciante do Bobby Fischer Rodrigo da Costa Pereira. Este realmente foi um jogo que ninguém perdeu a oportunidade de assistir. Até mesmo os graduados se acercaram à mesa para ver as grandes movimentações e jogadas de cinema que ambos protagonizavam. Não que eles fossem lá grandes jogadores, mas justamente aí é que residia a atração. Muitos lances e jogadas brilhavam pela inocência de seus comandantes. O ponto alto aconteceu quando Rodrigo literalmente encurralou Lito no canto cercado com Dama, Bispo e Cavalo. Ele não percebeu que – se jogasse a Dama no fundo na casa da Torre adversária seria xeque-mate, pois o Rei não poderia ser defendido tampouco fugiria, uma vez que a diagonal aparentemente livre estava sendo ocupada pelo Bispo da casa negra. Rodrigo invés disso resolveu jogar o Cavalo para, no lance seguinte encerrar o jogo com um mate apoteótico – isso pelo menos em sua concepção. Só que ao fazer isso, liberou a Dama de Lito que pôde contra-atacar através da única diagonal outrora obstruída pelo Bispo da casa negra de Rodrigo – o mesmo que impediria o Rei de Lito fugir. Lito olhou, pensou, mas não tinha certeza de nada. Mas foi em frente. Muniu-se de coragem e resolveu dar xeque. Perderia, talvez, mas pelo menos um xeque ele daria. Não é que foi xeque-mate. A turma foi ao delírio – o bom e velho amigo Lito conseguiu finalmente vencer uma partida. Ele com o passar dos anos se tornara o “mascote” do xadrez na fronteira, mesmo no alto de seus quase 70 anos de vida.


A incrível jornada de Éder Truculoso e João Firmino


O coração de Éder Truculoso parecia querer sair do peito - tamanha era a sua ansiedade para chegar logo ao seu destino - ele partira do pequeno vilarejo de São Roque do Norte, nas imediações da cidade de Passo Fundo e pretendia desembarcar em Santana do Livramento para jogar um torneio de xadrez onde estariam reunidas nada menos do que três bandeiras e muitos jogadores do exterior. João Firmino, seu parceiro de viagem com sua tradicional calma, a mesma que o conduzira à presidência do clube de xadrez de sua cidade - perdeu as contas de quantas vezes viu Éder Truculoso desarrumar a vasta cabeleira e voltar a amarrar em forma de rabo de cavalo. Se este animal que conferiu o nome a este tosco penteado estivesse no ônibus - com certeza ficaria incomodado pela comparação e quem sabe, porque não, até excitado pelas tantas e incansáveis vezes que era acariciado.
A jornada seria longa. De sua casa até Passo Fundo em cima de uma carroça – já iniciara a aventura de umas quatro horas e, daí até o extremo sul do Rio Grande seria uma viagem e tanto - ainda mais que não existe ligação direta via-ônibus intermunicipal. Deveriam fazer baldeações e a mais conveniente, menos onerosa e mais curta seria embarcar para Santa Maria e de lá tentar uma viagem para Santana do Livramento. A primeira etapa do plano foi cumprida com êxito - a dupla chegou na rodoviária de Santa Maria às seis horas da madrugada e logo correu até o guichê para comprar as passagens. "- Senhorita, bom dia, somos de São Roque do Norte, perto uns 40 quilômetros de Passo Fundo, esta é a primeira vez que deixamos a roça e desejamos ir para Santana do Livramento, têm passagem e que horas sai?" perguntou João Firmino com seu inconfundível sotaque de "índio passofundense". A moça que trajava um bleiser azul escuro com filetes dourados cobrindo uma camisa branca e cabelos longos - fitou seus olhos amendoados em forma oriental escondidos atrás de uns óculos fundos de garrafa em Firmino, e respondeu: -" Parte um agora às sete, só que não tem mais lugar ... vocês querem ir de pé ou esperar o das nove?" Antes que João Firmino pensasse em responder - Éder Truculoso saltou e se antecipou ao amigo, ..."não, não, veja duas passagens que vamos em pé mesmo!" Assim embarcaram na hora determinada e pacientemente se amontoaram dentre os demais no corredor do ônibus.

A viagem


Gente simples. A maioria dos passageiros era de trabalhadores rurais como eles - pessoas humildes - umas com camisas xadrez, outras com volta ao mundo e algumas escassas vestindo roupa de melhor qualidade, o que no caso se referia a eles. Tinha até um que levava um porquinho com uma corda atada no pescoço – outro tinha uma caixa com duas galinhas carijós e ao lado do bando de número 12 um menino carregava uma cabrita. Eles até pensaram em achar graça, mas logo abandonaram esta idéia porque, àquela altura dos acontecimentos seria inconveniente e uma indelicadeza agir daquela forma. Porém o pior de tudo era o fato de que estes ônibus modernos não abrem as janelas - deixando para o ar condicionado a tarefa de refrescar o ambiente. Mas isso não é o suficiente e os amigos sentiram, pela primeira vez na vida, o quanto duro é a vida de um colono. O ônibus levou cinco horas e meia para percorrer 300 e poucos quilômetros, o que pareceu uma vida para eles que estavam quase sufocados e cansados de ficarem em pé. "João, tenho sede e estou com ânsia de vômito" - disse Éder Truculoso ao parceiro que já ouvira falar de Santana do Livramento e conhecia até alguns pontos turísticos por fotografias. "Calma falta pouco, está vendo este cerro aqui - é o Cerro Palomas, o símbolo da cidade e falta só 20 quilômetros, agüenta mais um pouco..." disse João Firmino. Meio que contrariado Éder não tinha alternativa. Até que se lembrou de ter comprado na lancheria da rodoviária de Santa Maria uma barra de chocolate com nozes e resolveu enganar o estomago, pois seu amigo o convencera que o enjôo poderia ser fome.

“Então ele sentiu fome... mas!!!”


Esta, porém, foi a pior decisão que Éder Truculoso poderia ter tomado - resolver comer aquele chocolate de 200 gramas. Estava delicioso, pois acima de tudo para saciar a sede que provocaria ainda seu amigo tinha a sobra de um refrigerante à base de cola - imitando a marca mundialmente famosa. Como o chocolate estava meio mole devido ao calor - ele estava no bolso de trás de sua calça, não tardou para que ele recorresse ao “refri” do parceiro. Este também estava que era só xarope, sem gás e quente. Não deu a menor importância - pensou... "se não mata engorda" e meteu tudo goela abaixo. Caiu como uma bomba - invés de aumentar o enjôo as conseqüências foram piores. Teria sido melhor vomitar do que sujar as calças. Felizmente o ônibus tinha banheiro e até razoável. Àquela altura dos acontecimentos ninguém notaria as conseqüências de seu ato, não esqueçamos que próximo do banco 49 o passageiro levava um porco e este ajudaria a ocultar o odor, além das galinhas e da cabrita. A pior parte ficou com João Firmino que teve a árdua tarefa de conseguir papel higiênico para ele. Com Éder Truculoso devidamente acomodado como um Rei - buscou ajuda no motorista. Só que este não tinha o que ele desejava o cobrador muito menos; ofereceu algumas folhas do bloco de notas, mas foi recusado. Ainda pediu para alguns passageiros, mas nada.
Finalmente conseguiu viajar sentado
Calculemos que o ônibus, entre paradas e desacelerações tenha levado uns 40 minutos para cobrir a distância dos 20 quilômetros - este foi o tempo que Éder Truculoso curtiu a viagem sentado. Com os cotovelos apoiados nos joelhos, mas aliviado foi informado que deveria permanecer ali até que chegassem na rodoviária para que João Firmino comprasse um rolo de papel higiênico. Pena que ninguém tinha uma câmera fotográfica para registrar este épico momento - Éder Truculoso sentado na privada olhando pela janela como se nada estivesse acontecendo. Finalmente chegaram e Firmino pôde executar sua tarefa. Foi fácil - o difícil foi alcançar a encomenda ao "rei", pois o porco quer ocultava o crime fora embora. A esta altura a vergonha já tinha dado lugar à curiosidade de estar na terra onde apenas marcos invisíveis dividem dois países. Tudo aquilo que ouvira contar era verdade, seu sonho se realizara. Sentiu vontade de imitar o saudoso Papa João Paulo II e beijar o solo da rodoviária. Fez menção para tal, mas não teve coragem - deixa para lá. Convidou o amigo a entrar em contato com o presidente do Bobby Fischer Xadrez Clube para comunicar a chegada deles e pedir que viesse buscá-los.
A recepção
Não demorou muito pra que o jornalista Pedro Nicola acompanhado do cônsul Alfredo Sánchez na rodoviária chegassem. Só que havia muita gente neste horário de meio-dia entre ônibus que chegam e outros que partem e alguns minutos demoraram até que o encontro fosse efetivado. O relógio marcava 12:22 quando aquele sujeito de barba tipo profeta e longos cabelos surgiu das sombras estampando um vasto sorriso. Era Éder Truculoso que anunciava sua presença em terras fronteiriças. Acompanhado pelo não menos famoso João Firmino. Os três se abraçaram e foram para a casa de Nicola a fim de conversarem e saborearem um gostoso almoço regado a vinho e refrigerante para os abstêmios. Arroz branco, panquecas recheadas, salada de maionese e tomate com alface foi o cardápio. Nada de especial, mas como a fome era grande o oferecimento parecera um verdadeiro banquete. Não fizeram cerimônia e comeram até lamber os dedos. Mas a longa e desgastante viagem repleta de percalços os esgotara - muito mais agravada pelo vinho que lhes deu sono. Foram conduzidos ao hotel onde, após um reconfortante banho morno, a dupla dormiu o restante da tarde e quase chegou atrasado ao torneio que iniciava às sete horas.

Início do torneio

Refeitos da aventura e com as malas a tira-colo, já que souberam das previsões de encerramento do torneio de xadrez e da saída do ônibus para Santa Maria que desta vez iriam confortavelmente sentados nas poltronas 21 e 22, prontamente decidiram que não seria prudente retornar ao hotel após o término do evento, uma vez que embarcariam às 06:00 e o torneio às 05:30 - a dupla chegou no Bobby Fischer com uma hora de atraso. Nada de mais grave. Após uma concorrida cerimônia de abertura o torneio teve início e transcorreu normalmente. Enquanto Firmino na mesa nove comandando as peças brancas teve a sorte de enfrentar um dos mais fracos da competição, na oito, de negras - Éder Truculoso tinha uma carne de pescoço pela frente. Ambos uruguaios. Ainda não ambientado João Firmino suou sangue para derrotar o pobre Lito - ao passo que Truculoso não tinha a vida fácil; ele fora sumariamente derrotado por Ricardo Araújo. Veja como são as coisas no xadrez - na rodada seguinte, João Firmino que tivera de usar de toda a astúcia para vencer um fraco e humilde jogador uruguaio, desta vez tinha pela frente o grande Dirley Belo, considerado um dos fenômenos da fronteira. Como perdera, Éder Truculoso teve que se contentar em jogar na mesa sete contra o representante da Associação de Judô da cidade. Partida fácil, xeque-mate em pouco mais de dez lances. Pensou ele - "ganhei esta e vou olhar a partida do João, que está na mesa três, com certeza vai ser massacrado!” Não é que o grande Belo perdeu a batalha entre Davi e Golias.
O evento prosseguiu até às 23 horas quando teve uma pausa para o jantar oferecido pelos patrocinadores. Nada de muito requintado apenas um arroz com lingüiça, uma feijoada bem traquejada e muito vinho. Porém o bastante para contentar argentinos, uruguaios e brasileiros. Só que o chá de boldo que Éder Truculoso tomara após o almoço não lhe conferira muita tranqüilidade e ele voltou a visitar o WC incansáveis vezes - em uma oportunidade, inclusive, quase perdeu uma partida, pois teve que sair correndo para o banheiro com o jogo em andamento. Daí em diante o torneio prosseguiu normalmente com muitas alternâncias da segunda colocação para baixo - porque na ponteira estava o Mestre Nacional Uruguaio José Riverol que não aliviava para ninguém.
Foi um acontecimento literalmente para boêmios - uma vez que o sol desaparecia lentamente no horizonte e os enxadristas não estavam nem aí, pois concentrados e inspirados pelo vinho Almadén, freneticamente efetuavam seus lances. Até que na mesa um, a mais cobiçada e o sonho de todo jogador, - o Mestre Nacional José Riverol anunciou "Xeque-Mate!" dando por encerrado a Copa Alfredo Sánchez de Xadrez, iniciada que foi às 19 horas de sábado, dia 1º de outubro, nas dependências do Bobby Fischer Xadrez Clube e que encerrou nas primeiras horas da madrugada de domingo, às 05:47.

Uma inovação que irá marcar época!

O evento foi disputado pelo inovador sistema de pontos ganhos sendo descartados os empates - o que valorizou os confrontos e deixou a competição mais nervosa. Como se sabe, os empates fazem parte da história do xadrez e muitas vezes deixam os eventos com credibilidade duvidosa - uma vez que é comum que entre jogadores de grande qualidade técnica e por vezes amigos que ocorram empates sem mesmo jogarem de verdade, numa clara demonstração de covardia e desrespeito aos demais participantes. Só que não satisfeito com esta endemia mundial o Bobby Fischer resolveu tomar uma atitude e o que se viu foi o sucesso iminente com a aceitação imediata de toda a classe enxadrística internacional.

A Organização

No entanto, por detrás de tudo isso foi montada uma grande estrutura e respeitada organização, com o apoio fundamental de importantes segmentos - como o Departamento Municipal de Desporto, os hotéis Livramento, Palace e Real, a joalheria Sian, Vinícola Almadén e o setor de lazer do Serviço Social da Indústria(Sesi). Não era pra menos, pois estavam escalados para esta jornada da ginástica da inteligência - o que existe de melhor no gênero disponível aqui na fronteira, exterior e no Rio Grande do Sul - tais como jogadores de Montevidéu, Buenos Aires na Argentina, dirigente da Liga Gaúcha de Xadrez, do clube de xadrez de Passo Fundo e o representante oficial da Associação Santanense de Judô, Airton Costa Leites que está diversificando suas atividades esportivas entre seu ofício de instrutor na academia e jogador de xadrez.

Após dez horas de intensos combates de neurônios - a classificação foi a seguinte:
1 José Riverol Uruguai Montevidéu 7
2 Mário Peru Uruguai Rivera 5
3 Valmir Souza Brasil Livramento 5
4 Ruben Delbono Uruguai Montevidéu 4
5 Éder Truculoso Brasil Passo Fundo 4
6 Alfredo Sánchez Argentina Buenos Aires 4
7 Dirley Belo Uruguai Rivera 4
8 Diego Pelaez Uruguai Rivera 4
9 Oscar Rodrigues Uruguai Montevidéu 4
10 Ricardo Araújo Uruguai Rivera 4
11 Roberto Castillo Uruguai Rivera 4
12 Tiago Braz Brasil Livramento 3
13 Félix Maidana Uruguai Rivera Chico 3
14 Fernando Bonilla Uruguai Montevidéu 3
15 Washington Echavalete Uruguai Rivera 3
16 João Firmino Brasil Passo Fundo 2
17 Pedro Henrique Brasil Livramento 2
18 Alejandro Visillac Uruguai Montevidéu 2
19 Júlio Lito Uruguai Rivera 1
20 Nilo Cruxen Brasil Livramento 1
21 Pablo Lara Uruguai Rivera 1
22 Airton Costa Brasil Livramento 0

Mesmo debaixo de muita chuva, raios e trovoadas! Zebra se fantasia de Peru e vence torneio de xadrez




O relógio marcava pouco mais de sete e quarenta da noite quando muitas pessoas começaram a chegar à sede do clube. Enquanto uns vinham de carro, outros de motociclos, dois ou três de bicicleta, mas a grande maioria chegou caminhando mesmo. Agasalhados até os olhos porque o frio daquele início de noite já era intenso e prometia derrubar os termômetros – quiçá para próximo de zero grau. Não era para menos. Todos os noticiários davam conta da entrada de uma massa polar pelo sul do Rio Grande do Sul. E Santana do Livramento fica bem no extremo sudoeste do Estado na fronteira com a cidade uruguaia de Rivera – e aqui quando faz frio e resolve vir acompanhado do bom e velho conhecido “Vento Minuano dos Pampas” até gaúcho macho apela para o poncho. Era meados do mês de agosto e o inverso noa pampas gaúcho é coisa pra macho e índio de pelo duro e valente.
Mas para completar aquelas nuvens vindas do sul estavam carregadas com algo mais do que só frio. Era frio acompanhado daquele temporal. No dia seguinte houve quem dissesse que choveu mais de 130 milímetros. Água pra ninguém botar defeito.
No entanto - alheio e tudo os visitantes desejavam mesmo era jogar xadrez. Eles em verdade estavam atendendo a convocação para o II Torneio Noturno de Xadrez do Bobby Fischer Xadrez Clube. O segundo evento consecutivo do mês, e a missão de todos era basicamente uma: tentar vencer o grande Sixto Corbo Barreto, o grande jogador uruguaio que estava na iminência de se tornar um verdadeiro mito no xadrez da fronteira. Realmente o “castelhano” é uma fera no jogo rápido e se perde no tempo a informação de quem já deva ter vencido o ‘cabra’. Ninguém lembra quem e quando alguém ousou derrota-lo.
Do chamado grupo graduado apenas Tiago Braz e Valmir Souza não compareceram. O primeiro por simples “medo”. Se fosse apenas isso o pessoal até entenderia. Mas o que ele sentia não era somente medo, mas um verdadeiro pavor de jogar um torneio com a participação de Sixto. Houve até um relativo atraso porque ele chegou a telefonar pedindo que lhe conferissem um “By” ausente porque se atrasaria. Só que este atraso se transformou em desistência como veio a organização a descobrir a seguir. Valmir não veio por outro motivo. Medo não foi – porque até ‘sede’ do castelhano ele têm e muita.
Com uma hora de atraso finalmente deu início a primeira rodada – das sete programadas no ritmo de 20 minutos por jogador. Sem surpresa – pois os favoritos venceram sem problemas.
A grande zebra do torneio se apresentou na segunda rodada fantasiada de Peru. O jogo seria mais um passeio noturno de Corbo, mas ele jamais havia imaginado que à sua frente sentara um frio e calculista professor de matemática que não se assustara com sua fama de “matador” e resolvera encarar e ver o que daria.
Passou o tempo e Peru descobriu que a fera realmente não era tudo aquilo que diziam dela. O bicho não era tão feio assim. Feio Sixto é desde que nasceu. Isso pelo menos é o que todos concordam.

Peru fez uma combinação matematicamente perfeita que nem ele mesmo acreditava que aquilo era obra sua. Pensou até em estar sonhando. Aquilo realmente era obra de um gênio. O torneio quase parou, pois o atestado de óbito de Sixto havia sido assinado e o morto antes de ser sepultado esbravejou em alto e bom tom: “Estoy muerto, no lo creo...!”
E Peru teve o prazer que muitos sempre desejaram. Vencer e desmistificar o grande mito. O monstro estava ferido e sangrava como qualquer mortal. Não havia retorno tampouco antídoto que neutralizasse a sangria. Realmente deve ter doido muito morrer daquela forma – vexatória.
Serenados os ânimos e a adrenalina Mário Peru teve, quiçá meio a contra-gosto, que agüentar dezenas de tapinhas nas costas – todos o cumprimentando pela excelente performance. Contagiado pela atmosfera que se instalara sobre sua cabeça, Peru seguiu dando seu verdadeiro show particular. A vítima da vez foi o pobre Castillo.Sustentou-se ‘vivo’ por longos e penosos 51 lances – só que no seguinte conheceu o mesmo destino de seu antecessor.
Mário Peru engatou uma quinta marcha e literalmente patrolou os adversários que se apresentasse. Jamais desrespeitou algum deles – jogou certinho até o final cada abertura – sem cometer um erro sequer.
Assim nascia um novo personagem a ser batido. Peru que jogara como uma águia agora vencera não só o torneio, mas ganhara quase 200 pontos de rating e passando a liderar o ranking com larga vantagem sobre Sixto Corbo.


Acompanhe como foi o torneio.

1ª rodada (20:30)
1 Oscar, 0:1 Sixto,
2 Félix, 0:1 Hunter,
3 Fabián, 0:1 Flaco,
4 Belo, 1:0 Diego,
5 Lucas, 0:1 Peru,
6 Alcides, 1:0 BYE
7 Tiago, 0:0 BYE
8 Castillo, 1:0 BYE

2ª rodada (21:30)
1 Sixto, 0:1 Peru,
2 Flaco, 1:0 Alcides,
3 Hunter, .5:.5 Belo,
4 Oscar, 1:0 Félix,
5 Castillo, 1:0 Fabián,
6 Diego, 1:0 BYE
7 Tiago, 0:0 BYE

3ª rodada (22:30)
1 Peru, 1:0 Castillo,
2 Belo, 1:0 Flaco,
3 Diego, 1:0 Hunter,
4 Alcides, 0:1 Sixto,
5 Fabián, 0:1 Oscar,
6 Félix, 1:0 Echavalete,

4ª rodada (23:30)
1 Peru, 1:0 Belo,
2 Castillo, 1:0 Oscar,
3 Flaco, 1:0 Diego,
4 Sixto, 1:0 Hunter,
5 Alcides, 0:1 Félix,
6 Echavalete, 1:0 Fabián,

5ª rodada (00:30)
1 Flaco, 0:1 Peru,
2 Belo, 0:1 Sixto,
3 Félix, 1:0 Castillo,
4 Oscar, 1:0 Diego,
5 Hunter, 1:0 Echavalete,
6 Fabián, 1:0 Alcides,

6ª rodada (01:30)
1 Peru, 1:0 Félix,
2 Sixto, 1:0 Flaco,
3 Hunter, 1:0 Castillo,
4 Alcides, 0:1 Belo,
5 Echavalete, 0:1 Oscar,
6 Fabián, 1:0 BYE



7ª rodada (02:30)
1 Oscar, 0:1 Peru,
2 Castillo, 0:1 Sixto,
3 Belo, 1:0 Fabián,
4 Flaco, 0:1 Hunter,
5 Echavalette, 1:0 Alcides,
6 Félix, 1:0 BYE

Classificação final
Place Name Score Buch. M-Buch. Progr.

1 Peru, 7 26.5 18.0 28.0
2 Sixto, 6 26.0 18.5 22.0
3 Belo, 4.5 25.0 17.5 18.0
4 Hunter, 4.5 24.0 16.0 16.0
5 Oscar, 4 25.0 16.5 16.0
6 Félix, 4 24.0 16.5 13.0
7 Castillo, 3 30.0 21.5 17.0
8 Flaco, 3 26.5 19.0 17.0
9 Echavalete, 2 21.0 16.0 5.0
10 Fabián, 2 20.0 15.0 5.0
11 Diego, 2 18.5 11.5 7.0
12 Alcides, 1 24.0 16.5 7.0
13 Lucas, 0 7.0 7.0 0.0
14 Tiago, 0 2.0 2.0 0.0

Acompanhe como foram as partidas do Professor Mário Peru.

[Round 1]
[White Lucas]
[Black Peru]
[Result "0-1"]
1. d4 d5
2. c4 dxc4
3. Nf3 Nf6
4. e3 e6
5. Bxc4 c5
6. O-O a6
7. dxc5 Bxc5
8. Qxd8+ Kxd8
9. b3 b6
10. Bb2 Bb7
11. Nc3 Nbd7
12. Rfd1 Ke7
13. Be2 Rac8
14. Rac1 h6
15. Nd2 b5
16. Bd3 Bb4
17. Ndb1 Rhd8
18. Be2 Kf8
19. a3 Be7
20. b4 Kg8
21. Nd2 Ne5
22. Ba1 a5
23. f4 Nd3
24. Bxd3 Rxd3
25. bxa5 Bxa3
26. Ndb1 Rxd1+
27. Rxd1 Bc5
28. Rd3 b4
29. Nd1 Be4
30. Rb3 Bc2
31. Nd2 Bxd1
32. Rd3 Bc2
33. Rd4 Bxd4
34. Bxd4 Ra8
35. Nc4 b3
36. Kf2 Kf8
37. Ke2 Ra6
38. Kd2 Ne4+
39. Ke2 f6
40. Bb2 Nc5
41. Kd2 Bd3
42. Bd4 Bxc4
43. Bxc5+ Kf7
44. Bb6 Ke7
45. Kc3 Bd5
46. g3 Ra8
47. Kb2 Rc8
48. Kb1 Rc2
49. h3 Ra2
50. Bc5+ Kd7
51. Ba3 Rxa3
52. Kb2 Ra2+
53. Kc1 Be4
54. g4 b2+
55. Kd2 b1=Q+
56. Kc3 Rc2+
57. Kd4 Qb4#
0-1

[Round 2]
[White Sixto]
[Black Peru]
[Result "0-1”]
1. e4 c6
2. d4 d5
3. Nc3 dxe4
4. Nxe4 Nd7
5. Bc4 Ngf6
6. Ng5 e6
7. Qe2 Nb6
8. Bd3 h6
9. N5f3 c5
10. dxc5 Bxc5
11. Ne5 Nbd7
12. Ngf3 Qc7
13. O-O O-O
14. Bf4 Bd6
15. Nxd7 Bxd7
16. Bxd6 Qxd6
17. Rfd1 Qb6
18. c3 Rad8
19. Ne5 Bc6
20. Re1 a6
21. Nc4 Qc5
22. Rad1 Qg5
23. f3 b5
24. Ne5 Be4
25. fxe4 Qxe5
26. Rf1 Qc5+
27. Kh1 Qe5
28. a4 bxa4
29. Qf3 Rb8
30. Rf2 Rfd8
31. Rdd2 a3
32. bxa3 Qxc3
33. Rd1 Qxa3
34. Rc2 Rb3
35. Rcd2 Rd4
36. Qe2 Qc5
37. e5 Ng4
38. Bh7+ Kxh7
39. Rxd4 Qxd4
40. Qc2+ Rd3
41. Rxd3 Nf2+
42. Kg1 Nxd3+
43. Kf1 Qe3
44. g3 Qc1+
45. Qxc1 Nxc1
46. h3 Kg6
47. Kf2 Kf5
48. Kf3 a5
49. Ke3 Kxe5
50. Kd2 Kd4
51. Kc2 a4
52. Kb2 Ne2
53. g4 g5
54. Ka3 Nc3
55. Kb2 f6
56. Ka3 e5
57. Kb4 e4
58. h4 gxh4
59. g5 hxg5
60. Ka3 e3
61. Kb4 g4
62. Ka5 g3
63. Kb6 h3
64. Kb7 e2
65. Kb6 e1=Q
66. Ka7 Qe7+
67. Kb6 Qc5+
68. Kb7 Qd5+
69. Ka7 Qc6
70. Kb8 Ne2
71. Ka7 Ke3
72. Kb8 a3
73. Ka7 Kf2
74. Kb8 Kg2
75. Ka7 Nd4
76. Kb8 Qd6+
77. Kb7 a2
78. Kc8 Qc6+
79. Kd8 Ne6+
80. Ke7 a1=Q
81. Kf7 Qd7+
82. Kg6 Qe5
83. Kh6 Qg7#
0-1

[Round 3]
[White Peru]
[Black Castillo]
[Result "1-0"]
1. g3 Nf6
2. Bg2 g6
3. d4 d5
4. Nf3 Bg7
5. Bf4 Bf5
6. Nc3 O-O
7. O-O Nc6
8. Qd2 Qd7
9. a3 Rac8
10. h3 Bxh3
11. Bh6 a6
12. Bxg7 Kxg7
13. Rfd1 Bxg2
14. Kxg2 h6
15. b3 Rcd8
16. Qe3 Qf5
17. Na4 Qxc2
18. Rac1 Qe4
19. Qd2 Qf5
20. Nc5 Ne4
21. Qe3 Nxc5
22. Rxc5 e6
23. Rh1 Rh8
24. Rcc1 f6
25. Qc3 Rhe8
26. Rh4 e5
27. dxe5 fxe5
28. Qd2 g5
29. Rhh1 e4
30. Nd4 Qf6
31. e3 Rf8
32. Rhd1 Rde8
33. Rc5 Qd6
34. Rdc1 Rb8
35. Nxc6 bxc6
36. Rxc6 Qd7
37. Rxc7 Rb7
38. Qc3+ Kh7
39. Rxd7+ Rxd7
40. Qc6 Rdf7
41. Qxa6 Rxf2+
42. Kh3 R2f7
43. Qd6 Kg7
44. Qxd5 Re7
45. Rc6 Rf2
46. Rxh6 Re8
47. Qxg5+ Kf8
48. Rh7 Rh2+
49. Kxh2 Re7
50. Qf6+ Rf7
51. Rh8# ... ;
1-0

[Round 4]
[White Peru]
[Black Belo]
[Result "1-0"]
1. e4 Nc6
2. Nf3 e5
3. Bc4 Nh6
4. d3 Bb4+
5. c3 Be7
6. Bxh6 gxh6
7. Nbd2 Bc5
8. O-O Bb6
9. Qb3 Qe7
10. Bd5 Na5
11. Qc2 c6
12. Bc4 d5
13. exd5 Bg4
14. Rae1 Bxf3
15. Nxf3 Bc7
16. dxc6 bxc6
17. Qa4 f6
18. Nd4 Rd8
19. Nxc6 Qd7
20. Bb5 a6
21. Nxe5 Qxb5
22. Ng6+ Kd7
23. Re7+ Kc8
24. Qxb5 axb5
25. Nxh8 Rxh8
26. Rfe1 Nc6
27. R7e6 Ne5
28. d4 Nd3
29. Rb1 h5
30. Rxf6 Re8
31. g3 Bd8
32. Rc6+ Kd7
33. Rh6 Re2
34. Rxh7+ Be7
35. Rxh5 Kd8
36. Rxb5 Kd7
37. f3 Rc2
38. Rb7+ Kd6
39. h4 Rf2
40. Rb6+ Kc7
41. Re6 Kd8
42. b4 Rc2
43. a4 Rxc3
44. b5 Rc2
45. Rb3 Rc1+
46. Kh2 Rc2+
47. Kh1 Nf2+
48. Kg1 Nh3+
49. Kf1 Rd2
50. a5 Rf2+
51. Ke1 Bf8
52. Re2 Rxe2+
53. Kxe2 Kc7
54. b6+ Kb8
55. a6 Bh6
56. Kd3 Nf2+
57. Kc4 Bc1
58. Kc5 Nh1
59. f4 Nf2
60. Kc6 Kc8
61. b7+ Kd8
62. b8=Q+ Ke7
63. Rb7+ Kf6
64. Qe5+ Kg6
65. Qg5# ...
1-0



[Round 5"]
[White Flaco]
[Black Peru]
[Result "0-1"]
1. d4 Nf6
2. e3 d5
3. Bb5+ Bd7
4. Bxd7+ Nbxd7
5. Nd2 e6
6. Ngf3 Bd6
7. a3 O-O
8. h3 c6
9. c4 Qa5
10. c5 Bc7
11. b4 Qa6
12. Bb2 Rfe8
13. Qc2 Qb5
14. a4 Qa6
15. Nh2 e5
16. dxe5 Nxe5
17. Ra3 Nfd7
18. Bxe5 Bxe5
19. Nhf3 Bf6
20. Rg1 Nf8
21. Rh1 Ng6
22. h4 Nf4
23. Kd1 Qe2+
24. Kc1 Nxg2
25. Ng5 Qh5
26. Ngf3 Nxh4
27. Nxh4 Bxh4
28. Nf3 Qxf3
29. Rxh4 h6
30. Qd2 Qf6
31. Rf4 Qg6
32. Qd1 Rad8
33. Rg4 Qf5
34. Qd4 f6
35. Rf4 Qh5
36. Qd2 f5
37. Qc2 g6
38. b5 Kh7
39. bxc6 bxc6
40. Rd3 Rb8
41. Qc3 Qh1+
42. Kd2 Rb1
43. Qa3 h5
44. Ke2 Qf1+
45. Kf3 g5
46. Rfd4 f4
47. Rd2 Rxe3+
48. Qxe3 Qh1+
49. Ke2 f3+
50. Qxf3 Qe1+
51. Kd3 Rb3+
52. Kc2 Qb1#
0-1




[Round 6]
[White Peru]
[Black Félix]
[Result "1-0"]
1. d4 Nf6
2. Nf3 h5
3. e4 e5
4. dxe5 Nxe4
5. Qd5 Nc5
6. Bg5 Be7
7. Nc3 Bxg5
8. Qxc5 Be7
9. Qe3 a6
10. O-O-O f6
11. Bd3 Rh6
12. Rhe1 b6
13. exf6 Rxf6
14. Qg5 d6
15. Qxh5+ Rf7
16. Ng5 g6
17. Qxg6 Be6
18. Nxe6 Qc8
19. Ng5 Qd7
20. Qxf7+ Kd8
21. Qg8+ Qe8
22. Nf7+ Kc8
23. Qxe8+ Kb7
24. Qxe7 Nd7
25. Nxd6+ Ka7
26. Qxd7 Rc8
27. Qxc8 b5
28. Qb7# ...
1-0

[Round 7]
[White Oscar]
[Black Peru]
[Result "0-1"]
1. Nc3 d5
2. e4 e5
3. Bb5+ c6
4. Bf1 Nf6
5. Nxd5 cxd5
6. Bb5+ Bd7
7. Bxd7+ Nbxd7
8. c3 Be7
9. d3 dxe4
10. Bg5 exd3
11. h3 Qb6
12. b4 Ne4
13. Be3 Nxc3
14. Qxd3 Qc6
15. Ne2 Bxb4
16. a3 Qxg2
17. Ng3 Ba5
18. Kd2 Ne4+
19. Kc2 Rc8+
20. Kb1 Nxg3
21. Rd1 Rc7
22. fxg3 e4
23. Qb3 Qxg3
24. Rg1 Qxh3
25. Qa4 Qxe3
26. Ka2 Qf2+
27. Kb1 Qxg1+
28. Ka2 Qf2+
29. Kb1 Qe1+
30. Kb2 Qd2+
31. Kb3 Rc3#
0-1

Xadrez: Não está morto quem peleia!


Se o Criador tivesse se dado o luxo de baixar à Terra e visitar o Bobby Fischer Xadrez Clube nas noites de dois sábados dia 12 e 19 de janeiro de 2008 - datas em que se enfrentaram as duas promessas do ano de 2008, Júlio Lito e José Oribe numa melhor de três pontos no ritmo de 60 minutos nocaute, com certeza ficaria orgulhoso com o que veria. Entre muitos os defeitos de sua obra - a teimosia em especial, é um que lhe causa preocupação e por vezes inquietação. Só que esta suposta falha da fabricação se converteu numa grande virtude e motivo até de orgulho ao protagonista. Se o "Todo Poderoso" irá concordar jamais saberemos - na verdade, o que restou foi uma virada espetacular - fruto da teimosia, persistência e - patriotismo à parte - porque não dizer ginga e jeitinho brasileiro. Mas só isso não é suficiente - soma-se a tudo isso alguma dose de competência e conhecimento, em pouca escala é bom que se diga, mas o suficiente para dar um novo desfecho à trama que se creia estar com o destino selado.

No 1º duelo das revelações
Um xeque-mate por descuido


Conforme o calendário de início das atividades de 2008 - deu início nas dependências do Bobby Fischer Xadrez Clube com a primeira partida de xadrez. Pelo lado do Sarandi Universitário o uruguaio de 59 anos Júlio Lito enfrentou o funcionário público aposentado da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul seu Oribe, sete anos mais velho e enxadrista de ocasião.
Debaixo de um calor infernal estimado em menos de 36 graus centígrados seu Oribe apesar da idade se mostrou mais resistente das quase duas horas de partida e venceu o bom e velho Lito. Não obstante este estava com a partida na mão e, devido à grande vantagem perdeu a concentração e, neste décimo de segundo de descuido de Lito, seu Oribe, com o bispo escondido na casa h1 e tendo a dama despretensiosamente isolada em d5 pôde por em prática seu único isolado lance bom na partida e aplicou um sonoro xeque-mate no coitado Lito. Sem querer, mas o que vale é o registro do placar: 1x0.
Lito aprendeu mais uma lição neste seu mais de meio século de vida. Por fim veio a descobrir que quanto maior a vantagem maior deve ser a concentração. Descuidou-se e perdeu.
No entanto, haverá outro Rond desta batalha intelectual envolvendo os dois diamantes da fronteira que estão em vias de lapidação. Apesar de tudo ambos são grandes amigos e ainda seguiram jogando e tomando aquela cervejinha até altas da madrugada. O problema foi explicar às suas esposas e convencer que estavam jogando xadrez até àquela hora.

Uma pedra de Kryptonita escondida foi arma secreta utilizada por seu Oribe para derrotar o homem de aço

Só faltava o uniforme para que o super-homem fosse reconhecido na noite marcada para a tão comentada revanche na sede do Bobby Fischer Xadrez Clube quando da disputa da segunda partida da melhor de três entre os diamantes do xadrez deste ano que inicia. Júlio Lito estava com a corda toda como se diz popularmente. Houve até quem gritasse da janela -"o velhinho tomou todas!" O comentário veio de um enxadrista veterano que costuma ir ao clube à noite para jogar umas partidinhas de ping e que da mesma forma sempre chega acompanhado de uma latinha de cerveja, mas que já tomou outras tantas no caminho.
Seu Oribe, de passos lentos quase parando – talvez até sentindo os efeitos do calor intenso daquela segunda noite - chegou atrasado e se assustou quando surpreendeu Lito analisando umas e outras posições no tabuleiro, tendo um livro de mestres como apoio. Lito tinha que vencer porque havia sido derrotado na partida anterior e um novo insucesso encerraria o confronto.
Jogando com as peças brancas o competente secretário do Clube Sarandi Universitário foi com tudo para cima do amigo quase septuagenário. Mais uma vez o brasileiro se sentiu acuado - como no último encontro. A derrota seria praticamente certa - tamanha era a pressão de Lito. Em dado momento do jogo - já tinham caído um, dois, três, quatro peões em seqüência e logo após um xeque em sexta casa foi a vez da torre de José Oribe a sair de cena e por tabela um bispo que 'rasgava' o tabuleiro de ponta a ponta – parece que Lito lembrara-se do mate que levara quando se viu na posição favorável e seu bispo g7 comandava todas as ações das casas negras adiante.
Seu Oribe estava acuado. Perdido. Apavorado. Branco como um papel. Com o rei no centro do tabuleiro, a morte seria iminente para ele, questão de tempo - só isso, pouco ou quase nada poderia fazer. Cercado que estava de todos os lados imagináveis e possíveis de ameaça. Se houvesse um termômetro no escritório, ou melhor, na sala de jogo naquele momento ele certamente estaria beirando os 38 graus ou quem sabe até mais – mas nem por isso seu Oribe deixava de suar frio. Foi aí que ele teve a idéia de brindar a derrota e não se desgastar para a chamada partida da "negra!". Pediu que trouxessem o balde de gelo para que pudesse, já, abrir a garrafa de whisky e confraternizar com Lito. Um a um - o empate estava de bom tamanho. A grande decisão ficaria para próxima semana. E jogando de brancas poderia armar uma para cima do "baixinho travestido de super-homem".
Só que as pedras de gelo no copo de Lito tiveram efeito de kryptonita deixando suavezinho... Suavezinho... Suavezinho... E o whisky foi descendo como água. Quando Lito tentou tomar ciência da situação já era tarde - estava literalmente "gambá" e o pior ainda estava por vir. Alheio a tudo e a todos Lito seguia "empilhando" as peças contra seu Oribe - naquela altura dos acontecimentos, como a notícia deste confronto havia se espalhado na cidade e uma platéia entusiasta foi se aglomerasse na janela do clube que fica estrategicamente localizado numa região central e movimentada de Santana do Livramento e testemunhasse um desfecho apoteótico de uma partida de xadrez que certamente jamais irá se repetir.
Tanto vai, tanto vem que "El hombre de acero” (homem de aço) com toda propriedade observou atentamente o que se passava no tabuleiro, alisou seu fino bigode branco... Respirou fundo – levou a mão esquerda ao copo, agitou as três pedras de gelo com o dedo indicador no sentido horário – olhou atentamente aquele malte escocês envelhecido 12 anos, levou a boca e tragou tudo de um gole só. Feito isso e, antes de concretizar o lance que só ele vira, ajeitou os óculos de quase sete graus de miopia e anunciou... “Seu Oribe... perdoe-me, mas teremos que marcar a outra partida para sábado seguinte... e, sem a menor cerimônia, pegou sua Dama olhou firme para seu amigo – não o oponente, mas o copo de whisky que parece que sorria para ele já vazio, tomou coragem para se levantar da cadeira e bateu forte na casa d6 ...Xeque-Mate!”
Por sua vez seu Oribe quase teve um colapso – “Mate?”, mas onde... Havia bebido tanto quanto Lito, mas daí não ver aquilo seria demais. Pensou – “Bueno, perdido... perdido e meio... vou oferecer mais uma rodada e combinar o horário da partida de desempate”. Fizeram menção de se cumprimentarem – só que numa olhada mais detalhada no cenário abaixo revelou algo inesperado. Lito enxergara demais e dera o famoso xeque-mate na Torre de seu Oribe, e o que é pior – sem nenhuma proteção... Entregou a Dama limpinha.
Com esta furada de cinema seu Oribe ganhou fôlego e se arriscou ir ao ataque. Não estava lá muito mais sóbrio que Lito, mas bastou enxergar um pouco menos embaçado para vencer surpreendentemente o jogo e selar o desafio da melhor de duas partidas em dois a zero no placar. Só para não perder o costume e por forma de hábito, eles seguiram se confraternizando tomando não mais whisky, que acabara - mas cerveja uma após a outra.